O umbigo e a
garçonete.
Se tem uma coisa que
sempre me intrigou é a capacidade que as pessoas têm de admirar o próprio
umbigo. Esse comportamento auto-centrado, no próprio umbigo, sempre existiu,
mas, hoje em dia ainda é pior. Porque hoje, além da auto-admiração as pessoas ainda
desejam se mostrar para o mundo. É a cultura do “ame-se e mostre-se o quanto
puder”! É muito amor pelo próprio umbigo! Como se houvesse diferenças entre
umbigos. E alguns ainda querem, a qualquer custo, ao menos um minuto de fama. Na
verdade, eu nunca entendi muito bem esse “amor pelo próprio umbigo”. Aliás, isso
está bem na moda nos dias atuais, a notar-se pelas redes sociais que deveriam
ser chamadas de “espelhos sociais” por que quase todos as usam, não para se
relacionarem, mas sim para se auto-refletirem. Esse comportamento exibicionista,
pode até estar na moda, mas eu diria que não é muito normal. É claro que não sou contra as redes sociais.
Muito pelo contrário. Na verdade acho fantástica essa invenção que faz com que
as pessoas se conheçam, sem se conhecerem. Sem falar de outras utilidades inerentes
a elas como: aproximar quem está longe, reencontrar amigos que não víamos há
muito tempo e afastar quem está ao nosso lado. Na verdade não sou contra as
redes sociais. Apenas acho que o uso delas é muitas vezes desvirtuado, e por
que não dizer equivocado? Mas não vim aqui hoje falar e criticar as redes
sociais. Vim aqui hoje falar de pessoas. E de uma pessoa em especial, a Neide.
E quem é a Neide? Neide é uma garçonete que me serve quase todas as manhãs uma
tapioca no meu café da manhã. Ela é muito simpática e atende muito bem todos os
seus clientes. Seu entusiasmo pelo trabalho é visível. E eu me arriscaria a
dizer que poucas vezes encontrei alguém tão animada com o próprio trabalho. Quem
para e observa a Neide trabalhar percebe na hora que ela é feliz com o que faz.
Coisa rara hoje em dia. E posso dizer,
com certeza, que ela é uma das poucas pessoas sensíveis que encontrei nessa
vida. E quando encontramos alguém que percebe além do próprio umbigo até nos
assustamos. E porque não dizer, admiramos muito! No mundo atual, onde todos querem ter seu
minuto de fama, não é fácil achar alguém que nos perceba e, simplesmente, nos
veja, ainda mais sem nenhum interesse. E
foi isso o que ela demonstrou para mim hoje. É que hoje eu estava almoçando no
restaurante em que ela atende e ela se aproximou de mim e me disse: - Sylvana, eu
estou achando você tão pra baixo hoje, o que aconteceu? E isso me fez entender
que ainda existem pessoas sensíveis e que não se importam apenas com o seu
próprio umbigo. Afinal, como Neide percebeu que eu realmente estava meio
triste? Que sensibilidade! Como uma pessoa tão dedicada ao trabalho pode ter
tempo e sensibilidade, na correria do dia-a-dia, servindo tantos pratos, a
tanta gente ao mesmo tempo, e ainda parar e observar que eu não estava bem? Neide,
você acertou! Eu realmente estava meio “pra baixo”, como você mesma disse. Mas a
sua percepção e indagação me deixaram mais animada! Me fez acreditar que ainda
existem pessoas que não olham somente para o próprio umbigo. E que ainda há
esperança para um mundo tão egocêntrico onde as pessoas não se importam de
verdade umas com as outras. E que ao contrário do que eu disse no início dessa
crônica: os umbigos nem sempre são iguais! Alguns são mais sensíveis que os
outros, como o da querida Neide. E, Neide, cuide bem do seu umbigo por que ele
é muito especial!
Sylvana Machado
Ribeiro.