quarta-feira, 16 de setembro de 2020

É no esperar que se consolida a beleza do desabrochar das rosas.

 




É no esperar que se consolida a beleza do desabrochar das rosas.

 

Nasci em plena primavera e, portanto, faço aniversário em Setembro, o mês das flores! E esse ano aflorou em minha alma uma mudança significativa que está afetando toda minha vida. Estou deixando os meus cabelos brancos! E assim como existem muitos tipos e cores de flores, existem muitas cores e tipos de cabelos. Os meus são cacheados e agora estão se tornando grisalhos.  E eu estou adorando a fase de transição de meus cabelos grisalhos. E não vejo a hora de vê-los totalmente brancos! É uma fase muito demorada e diferente, porém, não tão difícil como a maioria das mulheres diz.  E vou dizer o porquê não é tão difícil quanto parece. 

 Quando eu fiz 43 anos um dia acordei e percebi minha primeira ruga facial. Levei um susto, e pensei: meu Deus o que é isso? Uma ruga? Socorro! Passado o primeiro susto resolvi que não iria me preocupar por que aquela seria a primeira de muitas outras rugas que viriam e eu não podia fazer nada senão aceitá-las.  Aceitar que elas chegariam e que com o tempo se multiplicariam, pois como todo mundo eu estava envelhecendo. Então pensei: só existem duas maneiras de envelhecer: ou você luta contra e não aceita, gasta tempo, dinheiro e paciência com cirurgias, botox e cremes caros que não vão fazer efeito eternamente. Ou você aceita e continua vivendo sem se importar e com isso envelhece mais serenamente. Optei pela segunda.

 Esse ano de 2020 estou fazendo 53 anos. E há muito tempo vinha pensando em deixar de pintar os meus cabelos e assumir os meus brancos. E surgiu a oportunidade de deixá-los naturais com a pandemia do COVID 19. E isso aconteceu por que com a pandemia no começo do ano tivemos um período de três meses de total isolamento social. E assim surgiu a oportunidade de assumir meus cabelos brancos. Ficou mais fácil por que com o isolamento não podia pintá-los no salão, e como eu que já estava cansada de pintá-los em casa, resolvi deixar de pintá-los definitivamente!

 E o que aprendi sobre os meus cabelos brancos? Nada. Que cabelos brancos, são cabelos brancos. Só isso: é a cor dos cabelos de algumas pessoas vividas tempo suficiente para não se importar com eles. Mas os cabelos brancos, ao contrário do que muita gente pensa, dizem mais das outras pessoas do que de nós mesmas, portadoras assumidas de cabelos brancos.

 Vou explicar: quando se tem cabelos brancos geralmente ninguém sabe e por isso eles não têm nenhuma importância por que são pintados e escondidos. Assim, não se sabe nada da pessoa que os tem, enquanto eles estão escondidos. Mas, se por algum motivo a pessoa que tem cabelos brancos deixa de pintá-los e começa a mostrá-los por aí, descobrimos coisas impressionantes não só de que quem está a exibi-los, mas principalmente das outras pessoas que não aceitam que os grisalhos sejam felizes, principalmente ser eles forem grisalhos femininos!

 E sabem por quê? Porque o que estava escondido passa a ser visível, e assim muitas coisas ocultas aparecem com os cabelos brancos! Coisas boas e coisas ruins!  

 E o que descobri sobre os meus cabelos brancos?

 Descobri que não se pode medir a beleza pela cor dos cabelos, mas sim pela natureza do espírito da pessoa.

 Descobri que pessoas felizes e confiantes podem ter o cabelo da cor que quiserem que continuem bonitas, seguras, e felizes.  

 E que pessoas inseguras podem ter o cabelo mais bonito do mundo, e mesmo assim vão continuar se sentindo feias, inseguras e infelizes.  

 Descobri que nossos cabelos brancos afetam mais os outros que a nós mesmos, por que aqueles que não aceitam envelhecer vêm nossa aceitação como uma ameaça a sua beleza e felicidade. E eles se perguntam: como ela pode ser tão feliz com esses cabelos brancos e eu não? Dói muito porque descobrimos como existem pessoas infelizes e invejosas!

 Mas muitas pessoas dizem que os cabelos brancos envelhecem. Será mesmo?

 Não, os cabelos brancos não envelhecem. O que envelhece é não aceitar as mudanças da vida. É não aceitar as diferenças das pessoas. É lutar para que tudo permaneça igual, para que o tempo não passe, para que as mudanças não aconteçam. É não aceitar que todos estamos envelhecendo a cada dia. É querer mudar a vidas dos outros e não a nossa. É querer controlar o que não se pode. É querer ter o que não se pode ter. É querer ser mais importante que os outros. É querer ser superior por causa da cor do cabelo ou da beleza que se acha que tem. É não aceitar as mudanças gradativas e naturais que ocorrem com o passar do tempo. É querer impor a nossa vontade e nossos desejos as outras pessoas. É não se importar com o que os outros pensam, querem ou necessitam. É querer viver a vida dos outros. É querer continuar eternamente jovem e bonita.

 Tudo isso envelhece. Mas o que mais envelhece é não querer envelhecer. É não aceitar o que somos e como estamos ficando. Mas não aceitar envelhecer não impede que envelheçamos, por que vamos envelhecer de qualquer maneira, a cada dia, quer aceitemos ou não. E aceitar o processo de envelhecimento ajuda na aceitação de nós mesmos e o ato de envelhecer fica mais leve, mais suave, mais aceitável e mais feliz.  Portanto, não diga que cabelo branco envelhece... O que envelhece é a vontade de viver e de aceitar a vida como ela é.

Por isso não diga que cabelo branco envelhece. O que envelhece é não aceitá-los. Ou melhor, diga que os cabelos brancos realmente envelhecem, não quem os usa e assume sua idade, mas sim quem olha para eles sem admirá-los.   

Sylvana Machado Ribeiro.