É no esperar que se consolida a
beleza do desabrochar das rosas.
Nasci em plena primavera e, portanto, faço aniversário em Setembro, o mês das flores! E esse ano aflorou em minha alma uma mudança significativa que está afetando toda minha vida. Estou deixando os meus cabelos brancos! E assim como existem muitos tipos e cores de flores, existem muitas cores e tipos de cabelos. Os meus são cacheados e agora estão se tornando grisalhos. E eu estou adorando a fase de transição de meus cabelos grisalhos. E não vejo a hora de vê-los totalmente brancos! É uma fase muito demorada e diferente, porém, não tão difícil como a maioria das mulheres diz. E vou dizer o porquê não é tão difícil quanto parece.
Quando eu
fiz 43 anos um dia acordei e percebi minha primeira ruga facial. Levei um susto,
e pensei: meu Deus o que é isso? Uma ruga? Socorro! Passado o primeiro susto
resolvi que não iria me preocupar por que aquela seria a primeira de muitas outras
rugas que viriam e eu não podia fazer nada senão aceitá-las. Aceitar que elas chegariam e que com o tempo
se multiplicariam, pois como todo mundo eu estava envelhecendo. Então pensei:
só existem duas maneiras de envelhecer: ou você luta contra e não aceita, gasta
tempo, dinheiro e paciência com cirurgias, botox e cremes caros que não vão
fazer efeito eternamente. Ou você aceita e continua vivendo sem se importar e
com isso envelhece mais serenamente. Optei pela segunda.
Esse ano
de 2020 estou fazendo 53 anos. E há muito tempo vinha pensando em deixar de
pintar os meus cabelos e assumir os meus brancos. E surgiu a oportunidade de
deixá-los naturais com a pandemia do COVID 19. E isso aconteceu por que com a
pandemia no começo do ano tivemos um período de três meses de total isolamento
social. E assim surgiu a oportunidade de assumir meus cabelos brancos. Ficou
mais fácil por que com o isolamento não podia pintá-los no salão, e como eu que
já estava cansada de pintá-los em casa, resolvi deixar de pintá-los
definitivamente!
E o que
aprendi sobre os meus cabelos brancos? Nada. Que cabelos brancos, são cabelos
brancos. Só isso: é a cor dos cabelos de algumas pessoas vividas tempo
suficiente para não se importar com eles. Mas os cabelos brancos, ao contrário
do que muita gente pensa, dizem mais das outras pessoas do que de nós mesmas,
portadoras assumidas de cabelos brancos.
Vou
explicar: quando se tem cabelos brancos geralmente ninguém sabe e por isso eles
não têm nenhuma importância por que são pintados e escondidos. Assim, não se
sabe nada da pessoa que os tem, enquanto eles estão escondidos. Mas, se por
algum motivo a pessoa que tem cabelos brancos deixa de pintá-los e começa a
mostrá-los por aí, descobrimos coisas impressionantes não só de que quem está a
exibi-los, mas principalmente das outras pessoas que não aceitam que os
grisalhos sejam felizes, principalmente ser eles forem grisalhos femininos!
E sabem por
quê? Porque o que estava escondido passa a ser visível, e assim muitas coisas
ocultas aparecem com os cabelos brancos! Coisas boas e coisas ruins!
E o que
descobri sobre os meus cabelos brancos?
Descobri
que não se pode medir a beleza pela cor dos cabelos, mas sim pela natureza do
espírito da pessoa.
Descobri
que pessoas felizes e confiantes podem ter o cabelo da cor que quiserem que continuem
bonitas, seguras, e felizes.
E que pessoas
inseguras podem ter o cabelo mais bonito do mundo, e mesmo assim vão continuar
se sentindo feias, inseguras e infelizes.
Descobri
que nossos cabelos brancos afetam mais os outros que a nós mesmos, por que
aqueles que não aceitam envelhecer vêm nossa aceitação como uma ameaça a sua
beleza e felicidade. E eles se perguntam: como ela pode ser tão feliz com esses
cabelos brancos e eu não? Dói muito porque descobrimos como existem pessoas
infelizes e invejosas!
Mas muitas
pessoas dizem que os cabelos brancos envelhecem. Será mesmo?
Não, os
cabelos brancos não envelhecem. O que envelhece é não aceitar as mudanças da
vida. É não aceitar as diferenças das pessoas. É lutar para que tudo permaneça
igual, para que o tempo não passe, para que as mudanças não aconteçam. É não
aceitar que todos estamos envelhecendo a cada dia. É querer mudar a vidas dos
outros e não a nossa. É querer controlar o que não se pode. É querer ter o que
não se pode ter. É querer ser mais importante que os outros. É querer ser
superior por causa da cor do cabelo ou da beleza que se acha que tem. É não
aceitar as mudanças gradativas e naturais que ocorrem com o passar do tempo. É
querer impor a nossa vontade e nossos desejos as outras pessoas. É não se
importar com o que os outros pensam, querem ou necessitam. É querer viver a
vida dos outros. É querer continuar eternamente jovem e bonita.
Tudo isso
envelhece. Mas o que mais envelhece é não querer envelhecer. É não aceitar o
que somos e como estamos ficando. Mas não aceitar envelhecer não impede que
envelheçamos, por que vamos envelhecer de qualquer maneira, a cada dia, quer
aceitemos ou não. E aceitar o processo de envelhecimento ajuda na aceitação de
nós mesmos e o ato de envelhecer fica mais leve, mais suave, mais aceitável e
mais feliz. Portanto, não diga que
cabelo branco envelhece... O que envelhece é a vontade de viver e de aceitar a vida como ela é.
Por isso
não diga que cabelo branco envelhece. O que envelhece é não aceitá-los. Ou
melhor, diga que os cabelos brancos realmente envelhecem, não quem os usa e
assume sua idade, mas sim quem olha para eles sem admirá-los.
Sylvana Machado Ribeiro.