quarta-feira, 11 de março de 2015

A LISTA


E eu que sempre pensei em participar de alguma lista, nunca imaginei que logo essa me daria inveja. Sim por que não tem outro sentimento mais legítimo que esse: inveja, e da boa!E existe inveja da boa? Não seria um pleonasmo? Sim, porque toda inveja é da boa, por que se fosse da ruim, não seria inveja, seria menosprezo.  





Passamos a vida toda aprendendo que participar de uma lista é uma coisa boa. Desde nosso nascimento, até a maturidade, estamos sempre participando ou querendo participar de alguma lista. Não interessa qual, mas se tivermos em uma lista significa alguma vitória. Então, aprendemos que estar em uma lista é sinal de ascensão social, profissional, satisfação pessoal e sucesso.

Quando nascemos queremos estar na lista dos normais, explico; daqueles bebês que não tem nenhum problema de saúde ou anomalia genética.

Na infância queremos estar na lista dos engraçadinhos, ou espertos. Mas essa é fácil, por que, todo pai conta as histórias dos filhos com orgulho e dizendo: - meu filho é tão especial... Nunca vi nenhum filho menos especial, pois, se é que existe, os pais não contam.

Já na adolescência queremos estar na lista dos inteligentes e talentosos. Essa é mais difícil por que não depende só da opinião dos pais. Temos que passar pela aprovação dos colegas e professores. E quando somos aprovados nos trabalhos extracurriculares do colégio para fazer parte do grupo de teatro ou de dança nos sentimos “os escolhidos”. E achamos que essa lista é a mais importante de nossas vidas. E não deixa de ser por que a adolescência é uma fase muito importante e complicada ao mesmo tempo. E fazer parte de qualquer lista nessa fase é realmente um mérito e uma benção! Mas, nem imaginamos o que vem por aí...

Daí chega à fase da preparação para a vida adulta. Temos que estudar muito para conseguir entrar na lista mais difícil de nossa vida: a do vestibular ou ENEM. É que essa lista realmente depende exclusivamente de nós. Fazemos de tudo para estar nessa lista. Desdobramos-nos de todas as formas para conseguir entrar para a faculdade. E mesmo que não tenhamos nenhuma vocação para um curso específico, não importa, o que realmente queremos é estar na lista dos aprovados. Depois pensamos no que vamos fazer da vida. E finalmente conseguimos!

Já na faculdade começamos a enxergar que nem toda lista é importante. Por que descobrimos que estar na lista nem sempre é sinal de merecimento. Começamos a enxergar que a vida não é do jeito que pensávamos e colocamos em dúvida tudo o que aprendemos até então. Percebemos, pela primeira vez, que nem toda lista é verdadeira. E que para estar na lista às vezes depende mais dos outros do que de nós mesmos. É uma fase de descobertas.

Já na fase adulta, quando temos que lutar pela nossa sobrevivência, percebemos que todo nosso esforço pessoal pode nunca ser reconhecido se não estivermos em uma lista. Essa é a fase mais difícil por que essa é a confirmação de que valeu a pena todo nosso esforço na vida estudantil. E que realmente merecemos estar em alguma lista: dos empregados, dos concursados, dos autônomos, dos empresários, dos políticos, enfim, dos bem sucedidos! Nessa fase a única lista que não nos interessa é a dos fracassados.

O fato é que durante nossa preparação para a vida não nos ensinam sobre a relatividade das listas. E que para estar em qualquer lista, seja dos bem sucedidos ou dos fracassados, não depende somente de nós. E que, às vezes, estar em uma lista ou em outra, depende mais de fatores externos, que oscilam com a ocasião, do que do nosso sucesso ou fracasso. E que para estar em uma lista de derrotados a culpa é só nossa. Mas, para estar em uma lista de vitoriosos, o mérito é de todos; ainda que se prove o contrário.     

E durante nossa vida ninguém nos ensina que às vezes estar em uma lista pode ser nossa maior glória ou nossa pior derrota. E que estar na lista nem sempre é sinônimo de vitória ou de merecimento. E que a lista dos aprovados de hoje pode ser a dos fracassados de amanhã. Ou que a lista dos escolhidos de hoje pode ser a dos condenados de amanhã. E que o mais importante não é estar na lista e sim merecer estar, apesar de não estar. Por que nem sempre mérito significa merecimento. E que o sucesso de hoje pode nos levar ao fracasso de amanhã. E que nem tudo que reluz é ouro... pode ser ferro, algemas, xadrez, condenação ou livramento. E que com a mesma medida que você julga ser importante estar em uma lista, você pode ser julgado por estar ou por não estar. E que nem toda lista é “A Lista”.      

Sylvana Machado Ribeiro.



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