quarta-feira, 27 de novembro de 2019

O picolé que salva





O picolé que salva

Com o tempo percebemos que às vezes o sofrimento pode ser transformado em alegria e até pode salvar vidas. Normalmente não gostamos de guardar na memória lembranças tristes, mas essas podem nos ajudar a purificar a alma se conseguirmos transformar o sofrimento em ação benéfica.
Principalmente se for em benefício daquele que nos causou sofrimento.

Há muitos anos em um colégio particular no interior de Minas Gerais, na cidade do Prata vivia um menino muito inteligente que era aluno bolsista. Naquela época nem existia isso, mas esse menino por ter uma inteligência acima do normal conseguiu, com a ajuda de seu irmão que fez uma carta para o diretor da escola, se matricular em um colégio particular e terminar o ensino do primeiro grau.

Como ele morava em outra cidade, em Buriti Alegre- Goiás, teve que se mudar de cidade e foi morar no próprio colégio trabalhando meio período como Office Boy para pagar os estudos.  Enfim, ele morava, trabalhava e estudava no colégio.

Todos os dias o diretor lhe dava alguns trocados e mandava-o comprar um picolé para ele. O menino que tinha treze anos comprava e levava para o diretor. Mas ele ficava morrendo de vontade de chupar um picolé também! E o diretor era tão insensível que não percebia isso e nunca fez a caridade de lhe dar um picolé! O menino sonhava com esse picolé, mas não tendo dinheiro para comprar, ficava só na vontade!

Em compensação ele estudava tanto que sempre tirava as melhores notas do colégio! Ele sempre foi o melhor aluno de todos! Sua inteligência e esforço fizeram com que se destacasse de todos os outros alunos. Enfim, apesar do trabalho, da distância da família e do sofrimento de não poder chupar um picolé ele conseguiu se formar. O mais triste não era não chupar o picolé, era ir comprar, todos os dias para o diretor e ficar passando vontade sem poder chupar um também! Isso para um menino de treze anos, à época, era um enorme sofrimento!

Muitos anos depois esse menino passou no concurso do Branco do Brasil e se mudou para Brasília. Constituiu família, teve quatro filhos, e tinha uma vida financeira estável e confortável.

Um belo dia ele recebeu uma carta de um antigo conhecido que estava em dificuldades financeiras e precisava de sua  ajuda, pois não tinha mais a quem recorrer. Pedia-lhe, encarecidamente, que lhe ajudasse em memória daqueles tempos em que lhe deu a oportunidade de trabalho, no início de sua vida, quando ainda era menino!

Esse menino, ao contrário da maioria das pessoas que se lembraria com tristeza das vezes em que passava vontade de chupar picolé, e negaria sua ajuda, pelo contrário, ficou muito feliz em poder ajudá-lo, pois sua personalidade sempre foi de pessoa caridosa que sempre ajudou aos seus, e a todos os que lhe pedissem ajuda! 

Assim, ele não teve dúvida: fez o depósito da quantia solicitada e ainda lhe mandou uma caixa de picolé com um bilhete que dizia:

"Às vezes um picolé pode salvar uma vida".
Seja muito feliz!
Com respeito, seu ex-aluno e office Boy.
Odilon Ribeiro.

Sylvana Machado Ribeiro.