sábado, 21 de fevereiro de 2015

Não sou um monstro, só não gosto de crianças.




Não gosto de criança, mas isso não me torna pior que os outros e muito menos um monstro. Mas verbalizar isso às vezes choca as pessoas, e o que é pior, te faz sentir o último dos seres humanos.

Você não gosta de criança?! Isso parece ser um crime contra a humanidade. Seria pior do que dizer que não gosto de carnaval, que, aliás, também não gosto. Mas isso não me faz ser péssima e sim um adulto de bom gosto apesar de um pouco desanimado. Já, não gostar de criança, e ainda verbalizar isso, te faz parecer um monstro. 

Estávamos na chácara de uma tia em comum para descansar e passar os dias do feriado de carnaval. Éramos doze adultos todos bem maduros e apenas uma criança de sete anos entre nós. O fato de não gostarmos de carnaval fez com que fôssemos nos encontrar para descansar e nos divertirmos um pouco fazendo outras coisas como ler, conversar, escutar música, tomar sol, banho de piscina, jogar conversa fora, enfim, cada um tinha a liberdade de fazer o que quisesse que não fosse trocar fraldas ou cuidar de crianças. Enfim, um final de semana bem divertido, pelo menos para nós. E sem maiores obrigações. Também tinha a turma dos que cozinham e dos que bebem, é claro. 

Eu até que para quem não gosta de criança fui uma tia- madrinha-babá por 17 anos bem participativa. É que tenho dois sobrinhos que adoro e sempre fui muito presente na vida deles. Para eles já fiz de tudo mesmo: de levar e buscar na escola, ajudar com os deveres de casa, ir a festas e ficar de olho como babá, jogar, nadar, assistir filmes e colocar pra dormir, dentre outras coisas. E não me arrependo de nada. Até por que eles são meu tesouro! Não tenho filhos, mas me realizei como tia e madrinha. E eles por sua vez sempre foram crianças nota dez! Sempre obedientes e educados. Nunca me deram o menor trabalho. Sou muito orgulhosa deles. Acho que fiz minha parte e já ajudei a criar os dois que agora são adolescentes. E por durante 17 anos sempre passei o feriado do carnaval com eles.

Mas dessa vez não. Pela primeira vez em 17 anos fui passar meu carnaval longe deles e com meus primos queridos. Estava super feliz e animada. E eu não bebo! Então, era um domingo de carnaval, e eu e mais duas primas resolvemos tomar banho de piscina enquanto esperávamos o almoço que o marido de uma delas estava fazendo para nós. Fazia uns dez anos que eu não ia pra fazenda e estava muito feliz e animada. Encontrar meus primos para mim é sempre uma festa. Nada podia dar errado. Daí pegamos uma caipirinha de vodca, um caldinho de feijão, e fomos pra piscina jogar conversa fora. 


Passado alguns minutos chega uma turma de outros primos com alguns amigos e seus respectivos filhos, todos menores de oito anos, e foram fazer um churrasco à beira da piscina. Até aí tudo bem... Mas, piscina, bebida, churrasco e criança são coisas que não se misturam. Pelo menos não pra mim por que eu não tenho filhos, não sou babá, e não gosto de criança! Mas, tem gente que acha que pode colocar o filho no mundo, que todo mundo tem a obrigação de ajudar a olhar! Não sei onde isso está escrito, mas no meu manual de etiqueta, cada um que olhe o seu. Colocou no mundo, então toma conta, certo? Errado: tem gente que acha que a humanidade é obrigada a gostar de criança e tomar conta das suas! Oh, gentinha folgada! E depois eu é que sou sem educação! Eu posso até ser muito sincera, ou talvez franca demais, mas não sou sem noção como esses pais que acham que todos têm que tomar conta de seus filhos! 

Bem, daí é claro que nesse contexto aconteceu o que eu estava esperando: um pai com um bebê de menos de um ano aproximou-se de nós e sem nenhum constrangimento perguntou: quem quer ficar com a pequena na piscina? Eu sem o menor pudor logo respondi: - olha, acho melhor não por que eu não gosto de criança! Na mesma hora minhas duas primas que já tinham comentado comigo que também não estavam dispostas a olhar crianças na piscina quase se afundaram de vergonha com a minha resposta. Foi um constrangimento geral. 

Agora eu me pergunto: é melhor ser sincera ou fingir e dar uma de boa moça e tomar conta da criança dos outros sem estar nem um pouco a fim? Sei não, acho que a humanidade não está preparada para receber não. Ou talvez para usar de sinceridade. Mas eu não. Se eu não gosto de criança não vou fingir e cuidar de criança dos outros pra eles terem uma “folguinha” no feriado e curtir um churrasquinho e uma “birita” por conta dos meus serviços de babá! Se eu gostasse de criança seria babá ou teria tido filhos! Então... a humanidade é que precisa aprender muito ainda. E não vai ser eu que vou ensinar. 

Enfim, não é que eu não goste de criança, na verdade não gosto mesmo é de pais folgados! E as crianças não têm culpa disso. Simples assim!


Sylvana Machado Ribeiro. 

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