quarta-feira, 18 de março de 2015

Ouvir é bem mais que escutar.

“Não podemos acrescentar dias à nossa vida, mas podemos acrescentar vida aos nossos dias”
Cora Coralina



Ouvir é bem mais que escutar.

Algumas histórias vividas nos vêm à lembrança quando alguém nos conta. Outras ficam em nossa memória para sempre. E algumas se repetem ao longo da vida, em várias circunstâncias, que a gente nem imagina. Mas todas elas servem para nos ensinar alguma lição. E a vida, meu amigo, é feita de lições. Uns aprendem e outros nem se dão conta disso.

Há muito tempo li em um artigo científico que a gente escuta com a cabeça e não com os ouvidos. Tenho que admitir, nunca tinha pensado sobre isso, mas é a mais pura verdade. Vou tentar demonstrar isso contando três histórias que aconteceram comigo em ocasiões diversas. E em todas elas eu não ouvi com a cabeça e, por isso, não entendi nada o que escutava.

Na primeira eu tinha apenas quatro anos de idade e já convivia com “gringos”. Eram americanos, amigos de meu pai, que frequentavam a nossa casa. Alguns até se hospedavam conosco. E eu não entendia nada que eles falavam. Um dia estava eu a brincar no meu velocípede, no quintal de casa, quando avistei no portão um “gringo” chegando para nos visitar.  De longe eu percebi que se tratava de um americano, e logo comecei a falar enrolado, imitando-o.  Minha mãe ouvindo aquilo, olhou para o portão e viu que tínhamos visita estrangeira. Ela morreu de rir da minha percepção sobre a nacionalidade de nosso visitante.  

Mas, o mais engraçado, naquele dia, ocorreu na hora do almoço, quando nosso convidado me pediu para que eu lhe ensinasse português. Ele apontava para os talheres à mesa e me perguntava como se falava aquilo em português. Daí, eu cochichei para minha mãe e disse: - mãe eu vou ensinar português errado pra ele. Ele não vai entender nada mesmo.  Nesse dia eu aprendi que quando não sabemos nada sobre um assunto, tudo que nos for contado  a respeito vai parecer verdadeiro. Muito importante essa lição!

Já na adolescência, eu tinha 16 anos, e fui morar nos EUA com toda a minha família. Logo que cheguei à casa que alugamos, eu liguei a televisão para assistir ao jornal local. E surpresa: não entendi absolutamente nada! É que a velocidade da língua falada é muito rápida, e quem não está acostumado não consegue entender mesmo. Eu já sabia um pouco de inglês, pois sempre estudei em escolas particulares e, antes de nos mudar, fiz um curso de conversação e achava que estava preparada para entender qualquer coisa. Que ilusão! Não adianta saber inglês se o seu ouvido não está acostumado com a velocidade da língua. Só com o tempo que a gente vai treinando os ouvidos e entendendo alguma coisa. Aprendi com isso que, não importa quem está falando, se quem está escutando não entende nada! Muito importante essa segunda lição!

A última lição aconteceu quando eu já era uma acadêmica de Direito. Já cursava o último ano do curso e estava fazendo o estágio supervisionado que consistia em assistir audiências e sessões de julgamento nos Tribunais Superiores. Um dia fui assistir a um julgamento no Tribunal Superior do Trabalho e adivinhem o que aconteceu? Eu não entendi absolutamente nada do que os Ministros estavam falando. Parecia que estavam falando em outro idioma. É bom esclarecer aqui que a matéria tratada em Tribunais Superiores é sempre de Direito, e, portanto, é preciso ter conhecimento técnico-jurídico para entender. Nesse dia aprendi que se você não tem conhecimento técnico sobre algo, é melhor nem escutar, pois, não vai entender nada. Portanto, estude e aprimore seus conhecimentos técnicos sempre, pois; isso vai fazer a diferença na sua profissão, seja ela qual for.  

Hoje eu entendo que por mais que eu estude sempre há mais alguma coisa a aprender. E que não basta escutar; é preciso saber ouvir e entender o que se ouve. Enfim, ouvir é bem mais que escutar.   

Sylvana Machado Ribeiro. 

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